![]() |
Manifestação de cristãos. Imagem: Isaura Morgana/G1 |
A despeito de uma manifestação na Praça dos Poderes, entorno do Congresso Nacional, ter aglomerado milhares de cidadãos, a mesma foi ignorada pela mídia tradicional (ou "grande mídia"), como a televisiva, recebendo, em algumas exceções, apenas pequenas notas ou trechos - mas com evidentes distorções, ignorando o seu teor e a sua repercussão.
Tratou-se de uma manifestação de cristãos (incluindo denominações católicas e evangélicas). Nos principais cartazes, lia-se "Estamos com Deus", "Pela liberdade", "Família", "Pela liberdade religiosa", "Liberdade de expressão", além de mensagens contra o aborto e o casamento homossexual.
O "banimento" pela mídia gerou crítica de diversos setores, inclusive de jornalistas, como Lice Castro, Reinaldo Azevedo, Mário Pereira e outros. O fato de a manifestação ter sido ignorada ou, sobretudo, secundarizada, ainda que tenha reunido, segundo os organizadores, 70 mil cidadãos, é notório. De fato, nisto reside o problema: para ignorar, não é preciso omitir. Também se ignora, e sobretudo assim, pela secundarização, pelo pouco apreço, pela manipulação da informação e pela deturpação.
No Jornal Nacional, na edição do dia 04/06, citou-se uma passeata com o número de 7 mil pessoas, além de focarem apenas a contrariedade ao aborto, concedendo-se inclusive mais tempo a posições contrárias e às suas refutações, não conferindo espaço para contra-argumentos e para críticas dos manifestantes aos contrários, o que promoveria a divulgação de um diálogo democrático e isento.
Editado em 21:27h: Houve a abordagem da manifestação no Jornal Nacional relatando a manifestação, enfocando, novamente, a contrariedade ao aborto e ao casamento gay e demonstrando a contraposição entre os grupos evangélicos - ignorando os católicos e outros grupos ecumenicamente interligados - e os movimentos LGBT. Repetiu-se a abordagem de terça-feira. Por que não houve explanação a respeito dos motivos, causas e argumentos ou maior tempo para a abordagem? Por que o site do JN praticamente a ocultou, tornando-a invisível quando da abertura da página inicial, sendo tal manifestação representativa de parcela da população? Os argumentos e as posições dos mesmos devem ser passados apenas em notas apenas porque discordamos deles? Por que o "destaque" se deu ao modo quase ridículo de Malafaia ao abordar suas posições, enquanto há argumentos - ainda que se discorde deles - razoáveis entre os contrários, inclusive em cunho legal, jurídico, sociológico, entre outros? Ainda que haja aversão a tais posições, como é opinião de grande parcela da população, deve-se entender que a publicidade, o jornalismo e a democracia devem conceder abertura, divulgação e notícia, ainda que haja discordância em relação ao defendido pela parcela da população. Cumpre frisar que o tempo dedicado a matérias relativas a futebol ultrapassou, ao longo do dia, mais de 30 vezes o tempo dedicado a uma manifestação de tamanho porte.
Isso se agrava quando se considera que mesmo manifestações com público inexpressivo, como o recente "Protesto de saias", na USP - o qual, segundo as imagens dos jornais, não chegou a reunir mais que 6 pessoas - foram amplamente divulgadas, merecendo álbuns especiais, foco, abordagens prévias, contínuas e até documentários a respeito.
Ainda que se discorde das pautas dos manifestantes, o fato de a mesma ser ignorada - e tornada "invisível" ou até mesmo "inexistente", por força de decisões dos manipuladores de informação - é reprovável sob a ótica jornalística. O que isso demonstra a respeito da influência de interesses nos grupos midiáticos? Como adendo, pode-se citar uma manifestação contra a corrupção, em São Paulo, que reuniu mais de 500 manifestantes e foi completamente ignorada, tendo merecido apenas uma nota - a qual não citava o conteúdo ou as propostas da manifestação - relativa ao trânsito "atrapalhado".
O que você pensa a respeito?
Gabriela Ferreira é analista de sócio-mecanismos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário